" Todos os dias : - Precisas de alguma coisa?
- Não, obrigada não preciso de nada.
Mas preciso. Preciso de me aninhar no teu peito, para sentir o teu coração a bater. Eventualmente sentir o teu braço a pressionar o meu corpo contra o teu. Preciso que saibas que me arrepias quando te sinto respirar na minha nuca. Que existe uma mecânica impulsiva que projecta a minha boca de encontro à tua. Ainda que não te possa tocar. Ainda que a cor rubra que me pinta as bochechas te seja invisível.
Esqueço-me constantemente do teu cheiro. Mas sei bem o sabor da tua pele. Crio mnemónicas na tentativa de voltar a ti. Ao teu odor, à exalação profunda dos teus sentidos. Convergimos num tempo estranho em que tudo é feito de memórias.
Tu em contra luz. Os meus lábios mornos. Os nossos corpos vestidos de pele, eu com a tua, tu com a minha. O meu cabelo que se metia entre nós, que tapava o meu peito, que se enrolava nos teus dedos, que escondia os meus olhos.
Nunca te vou dizer o quanto gosto de ti. Nem o que preciso.
Sim, Não preciso de nada obrigada. "
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