sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Carta ao José Luís Peixoto

Alerta :

Esta carta é altamente sentida. Nada divertida e muito pessoal.
Mais do que qualquer outro post, a leitura deste em particular é altamente dispensável.



Caro José Luís Peixoto,

Não sei como começar.
Talvez por dizer que preferia não te conhecer o rosto. Corro um certo risco de sofrer um ataque de ansiedade se nos cruzarmos na rua. Corres um certo risco de me ver correr para ti e dizer "ensina as pessoas a ser o que escreves."
Prometo que o ataque de ansiedade será o resultado de me estar a controlar e nunca o ir fazer.

É por isto que preferia não te conhecer o rosto. Não pelos mesmos motivos preferia não saber os teus gostos musicais. Devolvem-me um lado obscuro que encontrei nos teus primeiros livros. Sempre gostei das tuas palavras. Nunca das músicas que soube que ouvias.

Por um motivo ou por outro passei a olhar o grotesco com os olhos do amor. E soube que em ti sempre houve algo que me agradou. Em ti ou nos teus caracteres. Sabes, os teus filhos têm uma sorte do caraças. Acredito que os pais, na sua grande maioria, amem os filhos e sintam por eles exactamente o que sentes. Tenho a certeza que muitos deles não sabem expressar aquilo que expressas. Nunca da forma como o fazes.
O teu livro " Abraço " é um tratado de beleza, de carinho, de ternura e envolvimento. É um colo onde apetece sentar. Obrigada por partilhares connosco essa parte de ti. Claro que é próprio ires para as páginas do teu livro dizer que "amas". Os leitores devem estar abertos a encontrar o que houver para vir. Eu mais rapidamente o teu amor por pessoas, do que um homem sem pernas e sem braços.

Se há livro que mais me custou riscar foi este. Abri feridas nas páginas.
Se há livro que mais me apeteceu riscar foi este. Abriu sentimentos por osmose.

Os meus olhos engoliram as letras, atropelaram as virgulas, passaram pelos parágrafos com a gula de quem quer que o mundo seja assim. Porque é honesto. Porque partilhas. Porque no fundo, nalgum momento da vida, gostava de ter brincado contigo em Portalegre, ou em Coimbra. Ser tua amiga ou amiga de uma das Alziras. E fazer parte do mundo, que é teu, e em que as coisas que o teu coração diz aparecem nas páginas dos livros que tenho lá em casa.

Muitas vezes acho que o meu coração adormeceu. Depois começo a fazer contas de cabeça e percebo que é impossível. Enquanto existirem pessoas a escrever como tu, terei sempre vontade de sentir.
"De mim, espera amor e uma pessoa. Como as pessoas às vezes, engano-me, não sei respostas, tenho medo, tenho frio, minto, faço coisas feias, desisto escondo-me e fujo."

Um abraço.

Obrigada.


9 comentários:

  1. Essa última frase é de aquecer o coração :)

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  2. Belissima carta e belissimas palavras!

    Adorei ler este post, tanto como gosto dos livros dele! ;)

    xoxo
    nini

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  3. Tive o prazer de ter o J.L.P. numa aula da faculdade no mês passado e posso dizer que as palavras delem encantam. Dá vontade de ficar horas e horas a ouvi-lo. Pousar a caneta na secrtéria e deixarmo-nos ficar, assim, com um sorriso na cara a olhar para ele. A simplicidade com que ele fala de temas tão profundos é genial :)

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  4. Naa, nada dispensável, a leitura deste post.. Gosto de ter lêr porque me rio contigo mas (afinal) também gosto muito deste registo mais sentido :)

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  5. Vou ter de ler o livro, portanto, nunca li nada dele e fiquei curiosa agora!

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  6. Desculpa, não devia ter escrito que era dispensável... Não gosto da escrita do J.L.P. e extravazei.

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  7. E ainda por cima escrevi "estravasei" com z, o que não abona a meu favor como crítica literária. Desculpa, mais uma vez.

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  8. :)) Adorei a tua carta! E estou adorar o livro também!

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