sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013
Diário Dela #6
"Para mim era mais fácil do que para ti.
Era o que tu achavas.
Tens neste momento a tua cabeça pousada na minha barriga. Não lhe chamo ventre.
Ventre lembra-me sempre o projecto embrionário que tentámos começar.
Tens então a tua cabeça pousada. Passo a minha mão pelo teu cabelo, não tirei os anéis, prevejo que se vão enrolar, que te vais queixar. A outra mão descansa. Já não sei há quanto tempo não fazemos amor. O meu corpo gelou para ti. Estás longe da vontade animal de me sentires tua. Completamente tua.
Tento adormecer. Guardar esta memória fotográfica em jeito de desenho abstracto dos teus fios de cabelo sobre a minha pele. Sem olhares para mim dizes-me que não consegues dormir. Que te dói a cabeça. Que "isto tudo te chateia". Não faço ideia do que é "isto tudo" e depois do aviso sobre a dor de cabeça sei que não devo fazer mais perguntas.
Empurro o meu corpo - Puxo o teu. Um movimento 50/50. O suficiente para que encontrem um encaixe. Os meus braço envolvem-te, e aninhas a tua cabeça no espaço entre a minha orelha e o meu ombro.
Eu sei que estás a chorar. Em silêncio. Preferes sempre sofrer assim, achas que não deves expor fraquezas, como se chorar fosse para os fracos. Meu idiota.
As tuas lágrimas mornas começam a molhar o meu cabelo, a humedecer o meu pescoço. Engulo em seco. Quero chorar contigo mas não posso. O nó que tenho na garganta ata-se ao nó da tua. As minhas mãos não descansam. Apertam as tuas omoplatas. Quero puxar as tuas angústias para mim. Quero poder sofrer por ti, em vez de ti. Não contigo. Nem por ti. Só em vez de ti.
É por isso que achas que para mim é mais fácil do que para ti.
Mas não é.
Acho que é só mais natural.
Saudades, dor, ressentimentos, noites mal dormidas, dias importantes, pedidos impossíveis, são só algumas das consequências do que não podemos alterar.
Adormece. Quando acordares nada terá mudado. Não ganhámos mais tempo. Mas também não perdeste mais tempo a sofrer. "
Pag. 375 - página rasgada.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Boa noite,
ResponderEliminarDe que livro se trata?
Ines