A minha vizinha de baixo

Tenho uma vizinha de baixo.

Mas dizer isto não quer apenas dizer que mora uma pessoa do sexo feminino por baixo do meu mini apartamento. Não.

Quer dizer que mora uma senhora, sozinha, de cabelo branco, por vezes azul ( resultado da aplicação daquelas espumas no cabeleireiro ), que passa grande parte do dia à janela. E tem uma vassoura. (Sei que tem uma vassoura porque quando lhe dá para isso dá com o cabo da dita no tecto para nos mandar calar.)

A minha vizinha de baixo implica com tudo e mais alguma coisa. E sofre muito, sofre mesmo muito, " já se sabe sou uma pessoa nervosa ", queixa-se de muita coisa principalmente de como os vizinhos de cima contribuem para os seus nervos, stress e preocupações, porque têm horários muito díspares, e porque fazem imenso barulho.

Mas a nossa relação foi melhorando.

Um dia, a propósito do livro de actas do condominio descobri que a senhora era divorciada.

Não que não entenda porque motivo o senhor terá apelado ao divórcio, nada disso.
Mas já se sabe... toda a mulher que já sofreu um desgosto de amor fica mais sensível e mais próxima dos membros da sua espécie.

E foi isso que aconteceu, eu e a minha vizinha de baixo já eramos quase as melhores amigas. Ela contava-me as histórias da familia quando eu estava mais do que atrasada para o trabalho, e eu descalçava-me antes de entrar em casa para não fazer barulho.

Eu perguntava-lhe se ela precisava de alguma coisa, e até elogiava o tom de azul que ela tinha no cabelo.

Mas hoje ela quis voltar ao antigamente... e se ela quer, eu solidária que sou, vou-lhe dar o que ela quer.

Situação :

Eu, afónica como nunca, juro que se grito tudo o que sai são meros sussuros.
Gritei-lhe " Bom Dia Dona R. " e ela disse " Então está sem voz?! "
- " Sim Dona R., já viu agora não faço mesmo barulho"

Ao que sôdona R. responde " sim... pelo menos com a voz não fará barulho "





AI SIM MINHA GRANDE VIZINHA?! É DESTA QUE VOU COMEÇAR A TER AULAS DE SAPATEADO EM CASA.