Diário Dela #9
"Não tenho o melhor sentido de orientação.
Mas conheço minimamente a zona onde vivo. Ainda assim foram preciso meses para compreender um detalhe óbvio.
Há poucas situações em que identifico com exactidão o momento em que aquela sensação estranha - que sendo boa nos deixa quase ao mesmo tempo sem chão e encantados com outra existência- começa.
Sei que caminhámos sem destino, um circuito de quem não sabe bem o que dizer. Na altura não me questionei sobre o porquê de nos termos combinado encontrar depois da noite meia estranha em que nos conhecemos e nem sequer nos demos bem.
Sentámo-nos no chão a conversar.
Eu descrente no amor e nos relacionamentos. Tu magoado, traído, revoltado. Sem amor, mas com a amargura de quem não se sentia respeitado.
Ouvi-te. Compreendi-te sem esforço. Tentei-te dizer duas ou três coisas que te pudessem reconfortar.
Perguntaste-me se me podias ensinar uma coisa. Eu aceitei.
Começaste a dançar. Não nos tocámos. Disseste só para seguir os teus passos. Para te imitar.
Foi isso que fiz.
Rimos com a inocência das crianças sem noção do ridículo. Rimos depois um do outro por nos conhecermos há menos de um dia e estarmos dispostos aquele momento sem nexo.
Naquele pedaço de tempo coube tudo. Naquele momento de alegria genuína iniciei o caminho da amargura.
Ontem, enquanto esperava por um amigo sentei-me na entrada de um prédio, olhei para o fundo da rua e lembrei-me. Foi ali. Foi ali ao fundo. Abanei a cabeça para sacudir a ironia das coincidências e encolhi os ombros enquanto soltei um suspiro.
Fui demasiado inocente. Eu a descrente no amor e nos relacionamentos.
Olhei para cima. O nome da rua...
Rua Das Chagas.
Soltei uma gargalhada sentida.
O fim da história estava escrita mesmo antes de sabermos que ia ter um principio. "
pag. 547
muito suspiro depois de ler!!
ResponderEliminarIsto é de que livro?
ResponderEliminarNao esta publicado em Livro! *
EliminarEntão? É que gosto imenso dos textos :)
ResponderEliminarGostei muito *.*
ResponderEliminarSegui no bloglovin':)
Beijinhos*