terça-feira, 8 de janeiro de 2013

O Diário Dela

Encontrei um diário.

O dela :



" Desmarquei o restaurante. A reserva foi em vão e eu sou a única ofendida com isso, o rapaz do outro lado do telefone disse que não havia problema, a verdade é que só o consigo imaginar a gozar com a minha ingenuidade, como se nem sequer tivesse feito a reserva quando a fiz.

Desperdicei um belo tempo a pensar no que vestir para nada. O telefone tocou durante o dia demasiadas vezes, por todos os motivos. Liguei-lhe para falar sobre uma música que tinha sido "nossa", ele disse " ah pois era ..." Não com o tom de quem sempre soube, mas com aquele entoar de quem acabou de se lembrar das parvoíces que eu dizia, das personagens diferentes que inventava sobre as letras das canções. Perguntei-lhe se estava a usar um colete à prova de bala. Ele disse-me que estava pronto para o que fosse.
Disparei tudo. Contei-lhe tudo. E ele riu-se. Riu-se muito e disse : " Olha.. quando for assim lavas a cara, mudas de roupa, metes uns grandes saltos altos e desces a rua. Mas por favor... vê lá se não cais!!" Corei do outro lado do telefone. Afinal mesmo do outro lado do mundo ele podia-me ver. 
Silêncio.
"Fumamos um cigarro a meias?"
Fumámos um cigarro, eu metade, o ar a outra metade como se fosse dele. Ele fumou um outro cigarro, uma outra metade, e o ar a minha parte, como se fosse minha. 
Eu a sentir o frio da cama. Nada na cabeça. Tudo no estômago. Apaguei o cigarro contra o chão. Queria-o ter apagado na pele. 
Desliguei o telefone. Tentei fazer o mesmo com o coração. "

Pag. 432

8 comentários: